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cedeu por 800 gulden rhenanos o seu quinhão na casa que
haviam habitado os paes.
Da. mesma fórma se desfez de outras casas e proprieda-
des em cuja posse entrou e, em 5 de agosto de 1491, acha-
vam-se concluidas todas as liquidações legaes inherentes ás
partilhas no inventario por morte de sua mãe.
Por outro lado, porém, achou-se Martim envolvido em
negocios judiciaes menos satisfactorios para elle, pois, pouco
depois da sua chegada, foi intimado a pagar uma divida que
contrahira com Hermann Zweipfund e, nos começos de
1491, teve que acceitar uma nota promissoria que fôra as-
signada por seu irmão Miguel.
Durante a sua permanencia em Nuremberg, viveu Mar-
tim com seu primo Miguel, filho do tio Leonhard Behaim.
A julgar pela carta escripta por Wolf Behaim', então em
Lyon, em resposta a outra de seu primo Miguel, parece que
os parentes não ficaram muito bem impressionados com a
vida indolente que levava o seu hospede, passando o tempo
todo no jardim, ao que seria preferivel, suggeriu Wolf,
estabelecer um commercio de hervas. No vêr de Ghil-
lany, esperavam os de Nuremberg que Martin passasse o
dia todo a trabalhar no escriptorio d'algum commerciante,
ou não gostaram dos brilhantes vestuarios, em moda no sul,
fom que se apresentou.
Nada sabemos porém sobre este ultimo ponto. É possivel
mesmo que não tenha trajado taes alegres costumes, e a jul-
gar-se pelos seus retratos, que o representam com cabellos
cahidos sobre os hombros, certamente não adoptou o uso por-
tuguez do cabello eurto. O dr. Gúnther, oceupando-se dos
habitantes de Nuremberg d'aquella epocha, trata-os como
philisteus, observando com o maximo escrupulo os deveres da
sua classe e profissão, e mostrando poucas sympalhias para
com um homem do caracter de Martim Behaim, cuja intui-
ção da vida não se coadunava de todo com a d'elles.
Fôsse porém como fôsse, Martim não se deu evidentemente
muito mal em Nuremberg, pois, de contrario, não teria pro-
longado a sua estada alli tanto álém do tempo necessario para
a conclusão dos seus negocios judiciaes, narecendo esque-
1 Ghillany, pag, 106.