D. Manoel a Fernão d'Evora que Joz. d Utra, capitão dona-
tario do Fayal, «prendera dizendo que o achara com hãa sua
irmã, casada, mulher de um Martin de Boeme e o mandára
asy preso carregado de ferros á côrte d'El-Rey'».
Naturalmente, na casa da India e da Mina, podem ter exis-
tido documentos que dissessem respeito a Martim de Bohemia;
tendo sido, com outros documentos, talvez ainda mais impor-
tantes, destruídos por incendio, ou por motivo do grande
terremoto, perda esta, hoje, verdadeiramente irreparavel.
O nome de Martim de Bohemia não é citado por um unico
dos escriptores portuguezes contemporaneos d'elle, nem
mesmo por Ruy de Pina ou Garcia de Rezende nas suas
chronicas do Rei D. João II, os quaes, se o não conheceram
intimamente, tiveram pelo menos relações pessoaes com elle
admittindo que fôsse persona grata do Rei, como o preten-
dem os seus biographos e membros da sua propria fami-
lia?
Duarte Pacheco Pereira, nascido em Lisboa, em 1450,
frequentemente fala de Diogo Cão e outros exploradores,
no seu Esmeraldo de situ orbis, mas não menciona uma só
vez o nome de Behaim.
Quanto á correspondencia de Behaim, com muitos homens
de sciencia, só existe na imaginação de Carlo Amoretti, edi-
tor da relação da viagem de Magalhães « Primo viaggio in
torno al globo terraqueo» por Pigafetta (1800). Se taes car-
tas tivessem existido, certamente já teriam visto a luz da
publicidade.
O mais antigo escriptor porluguez que se occeupa de Be-
1 Publicada por E. do Canto, Archivo dos Açores, 1x, pag. 195.
? Em 12 de novembro de 1518, escreveu o seu irmão Miguel a J. Pock: «na
sua mocidade era Martim muito estimado pelo velho monarcha (D, João 11) mas
como terminaram os negocios na sua velhice melhor do que eu deveis vós sabel-o.»