isso o facto d'elle ser o filho primogenito d'um patriício al-
lemão. Em todo o caso, não parece que, no principio, as oc-
cupações commerciaes de Behaim constituissem obstaculo
ao elle ser recebido n'aquella esphera, isto, pelo menos, até
á epocha em que o influxo das riquezas, provenientes da In-
dia, precipitou a decadencia dos costumes da sociedade por-
tugueza, que passou a olhar com despreso para um honrado
negociante. -
Não parece, todavia, que a familia de Behaim estivesse
nuito bem impressionada com o comportamento d'elle, pois
que o irmão, Wolf, escrevendo ao seu primo Michael, em 27
le Novembro de 1491, dizia: «Aqui, em Lyon, dizem coisas
le Martim que me envergonham, e muito desejaria que nos
vissemos definitivamente livres d'elle?». Estes rumores,
ue corriam em Lyon, devem ter tido algum fundamento.
E' possivel que, em assumptos commerciaes, Martim se
deixasse levar a álgumas irregularidades, consideradas no
mundo do Commercio como culpas infamantes, mas pas-
sadas com certa indulgencia nas classes elevadas, sobre-
tudo sendo o accusado um homem de genio. Custa-nos
a admittir que tenha sido infame o seu procedimento, pois,
em tal caso, não lhe teria o sogro, alguns annos mais tarde,
confiado a cobrança d'importancias em divida por assucar
exportado, nem lhe teria Diogo Gomes, como almoxarife
de Cintra, communicado o manuscripto De Prima inven-
tione Guineae. Que Martim tivesse cahido na desgraça, não
se póde positivamente deprehender do facto de nunca ter
falado d'elle, no seu Linevarium, Monetarius que, du-
rante a sua estada em Lisboa, viveu com Joz. d'Utra, e de
ter aproveitado os serviços d'um estranho, o impressor Valen-
tim Fernandes, como interprete. Em todo o caso, quando,
1 Carta de Jorge Pock, datada de Lisboa 27 de março de 1520 (Ghillany, pag.
118). Jorge Pock foi agente em Lisboa da casa Hirschrogel de Nuremberg, Só veiu
para Lisboa muito tempo depois da morte de Behaim e o que d'elle sabe é só
por ouvir dizer. Em 1520, foi para à India e, em janeiro de 1521, escreveu de Co-
him: «Li com interesse as noticias sobre o monge de Wittenberg (Luthero) que com-
muniquei a todos os padres. Estes, muito impressionados dizem que elle préga à ver-
luade; na opinião d'um bispo, este monge é um santo aos olhos de Deus.»
2? Glullanv. pag. 105.